quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ode aos Ratos


Moro na Anchieta,
Além de muito lixo espalhado, que nada mais é do que o fruto da nossa falta de educação conjugado com preguiça e relaxamento acrescidas de pitadas generosíssimas de desemprego, fome e miséria.
Essa mistura indigesta leva todas as noites à rua um sem número de pessoas que rasgam sacos de lixo a cata da "janta" ou de algo que possa ser convertido em algumas moedas para que possam ser trocadas por alguma mercadoria, nesse caso alimento e isso passa longe da palavra RE - CI - CLA- GEM, é bom que fique bem claro.


ODE AOS RATOS
Composição: Edu Lobo / Chico Buarque

Rato de rua
Irrequieta criatura
Tribo em frenética proliferação
Lúbrico, libidinoso transeunte
Boca de estômago
Atrás do seu quinhão

Vão aos magotes
A dar com um pau
Levando o terror
Do parking ao living
Do shopping center ao léu
Do cano de esgoto
Pro topo do arranha-céu

Rato de rua
Aborígene do lodo
Fuça gelada
Couraça de sabão
Quase risonho
Profanador de tumba
Sobrevivente
À chacina e à lei do cão

Saqueador da metrópole
Tenaz roedor
De toda esperança
Estuporador da ilusão
Ó meu semelhante
Filho de Deus, meu irmão

Rato
Rato que rói a roupa
Que rói a rapa do rei do morro
Que rói a roda do carro
Que rói o carro, que rói o ferro
Que rói o barro, rói o morro
Rato que rói o rato
Ra-rato, ra-rato
Roto que ri do roto
Que rói o farrapo
Do esfarra-rapado
Que mete a ripa, arranca rabo
Rato ruim
Rato que rói a rosa
Rói o riso da moça
E ruma rua arriba
Em sua rota de rato

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