segunda-feira, 23 de novembro de 2009

LITER


Vigário Geral vivia o seu primeiro sábado alegre depois da chacina. Às cinco da tarde, suas ruas de terra batida fervilhavam de calor e de gente. Muitas coisas iriam me impressionar naquela primeira visita, além da presença ostensiva dos traficantes e suas armas medonhas, uma rotina com a qual eu teria que me acostumar nos dez meses seguintes, passado o susto inicial. A meia hora da Zona Sul, a trinta quilômetros do centro do Rio, eu estava entrando em outro mundo.
A chegada a essa favela plana exige um esforço inesperado: é preciso antes subir e descer 45 degraus. Uma passarela apanha o visitante do lado asfaltado e o conduz a nove metros de altura, sobre a via férrea, depositando-o do outro lado, num larguinho que funciona como um hall de entrada.
Os dois muros altos que cortam o bairro ao meio, isolando a linha do trem, servem também para dar a impressão de que a população vive confinada. Há uma maneira de se chegar à favela de carro, atravessando Parada de Lucas, mas nesse dia ainda era um caminho com algum risco para estranhos.

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