domingo, 9 de novembro de 2008

A Paixão de Joana D'arc




O FILME
Joana de Domrémy, uma mulher do povo, na França de 1431, que luta heroicamente contra a ocupação do seu país, é presa, torturada e queimada sob a acusação de blasfêmia. Transposto ao cinema por vários cineastas - Mélies, De Mille, Fleming, Uciky, Bresson, Rosslini e por último a versão Luc Besson -, ainda assim a Joana D'Arc de Carl Theodor Dreyer continua como a mais espetacular e sensível versão. Dreyer usou a essência do cinema, a imagem, para mostrar a tragédia humana em grandes closes. Cinema em estado puro, é um clássico singular na história do cinema. Em quase sua totalidade o filme consiste de faces, ou seja, em closes extremados dos rostos dos atores. Como o filme procura retratar a alma humana, nada mais apropriado do que rostos que expressam o ser interior. Os cenários, os vestuários e demais valores da produção são extremamente simples para não distrair a atenção do público da meta de Dreyer em retratar os sentimentos humanos. A interpretação de Faconetti, a jovem atriz de teatro que faz o papel de Joana, é considerado como um dos melhores, senão o melhor trabalho já realizado na frente das câmeras. É simplesmente magistral. Alegria, tristeza, agonia, esperança, medo e tantas outras emoções humanas são perfeitamente caracterizadas por Falconetti apenas por expressões de seu rosto. O fato dessa ter sido a única incursão da atriz no cinema colabora em tornar única a sua atuação, sem comparações e, por infortúnio da atriz, a ligando eternamente ao papel de Joana D'arc. O lado humano de Joana é confrontado com o lado desumano dos juízes que a julgam. Velhos, autoritários, ameaçadores, dogmáticos, cujo intuito é subjugar Joana, os juízes representam a inflexibilidade da Igreja diante a ameaça que ela representa aos seus interesses.



Nenhum ator do filme foi submetido à maquiagem, pois Dreyer entendia que sua aplicação poderia ocultar, ou até mesmo desvirtuar, a verdadeira face dos atores. Como conseqüência, o realismo do filme é impressionante. Para dar maior autenticidade do filme, a maioria dos textos nos intertítulos do filme, mais precisamente os que aparecem durante o julgamento, foram extraídos dos manuscritos originais do julgamento de Joana. Durante mais de 70 anos, A Paixão de Joana D'arc foi um dos clássicos mais conhecidos, porém raramente visto, na história do cinema. Rodado em 1928, os negativos originais foram destruídos em um incêndio. O diretor Dreyer, para reconstruir o filme, utilizou takes alternativos e criou uma nova edição. Não era tão boa como a original, mesmo porque os takes alternativos não representam as melhores cenas que foram para a edição original. Por força do destino essa nova edição também foi perdida em outro incêndio. Nos anos 60, vários takes alternativos sobreviventes que não foram usados por Dreyer na segunda edição, foram reeditados por várias distribuidoras resultando em versões de péssima qualidade, feitas sem a supervisão de Dreyer e que em quase nada refletiam o filme original.

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